REPORTAGEM AS NOSSAS GENTES – Artesão Joaquim Marques Mantém viva a tradição das peças de artesanato feitas em madeira
Atualizado em 15/11/2019Em Vila Verde é o senhor Joaquim que mantém viva a tradição das peças de artesanato feitas em madeira. Na região, escassos são os que não conhecem o trabalho deste antigo artesão vilaverdense.
O artesanato é a minha vida
Um dos poucos, ou talvez o único que existe no concelho, Joaquim Marques herdou do pai o amor pelo artesanato. Dos seus 72 anos, perto de sessenta pertencem à profissão que considera a sua «grande paixão». Natural da freguesia de Lanhas, o senhor Marques foi-se adaptando aos «novos tempos». «Antigamente estas máquinas não existiam. Fazíamos tudo à mão e as máquinas eram tocadas a pé. Hoje em dia é mais fácil, mas o trabalho continua a ser muito» confessa.
A técnica que foi aperfeiçoando ao longo dos longos anos foi-lhe trazendo a experiência que hoje lhe dá o prestígio dentro da profissão de artesão. «Dei quinhentos escudos pelo meu primeiro motor. Hoje em dia, vou trocando as máquinas à medida que houver necessidade», afirma.
Joaquim produz peças para todo o país
Sr. Joaquim produz peças para todo o país e muitas vezes para fora. Há dias em que trabalha oito horas, mas há outros em que as ultrapassa largamente. Começou o negócio sozinho, depois de ter seguido as passadas do pai, mas rapidamente o irmão se juntou a ele.
De entre tantas peças que produz, Joaquim Marques não consegue escolher a que lhe dá mais prazer de confecionar, mas conta que o peão é o que mais lhe pedem para fazer. «os peões já vêm do tempo do meu pai e continuam a ser muito pedidos, especialmente pelas câmaras municipais, porque são objetos tradicionais portugueses» explica.
«Caixas de “joias”, brinquedos, objetos de decoração…. desde que seja possível transformar, faço aquilo que me pedirem. Há peças que dão muito trabalho, mas há outras que já faço quase automaticamente.», afirma.
No “espaço” dedicado às recordações, há um artefacto que considera tão especial que o guarda a «sete chaves». Uma “caixa de joias” feita pelo pai, com um rendilha do, na sua opinião, «quase impossível de replicar».
«Ali na zona de Viana, há muitas fábricas que já a tentaram fazer. E fazem-na, é verdade. Mas os pormenores mais bonitos nunca ninguém conseguiu reproduzir. Por isso, apesar de me pedirem muito, já nem a mostro a ninguém. Tenho-a guardada»,diz.
Esta profissão que considera ser para «poucos» já não atrai «pessoas novas». «Não há procura suficiente para os jovens quererem trabalhar nesta área», admite. Apesar de confessar que gostava que os filhos lhe seguissem os sonhos, reconhece que «não há condições no mercado» para que o possam fazer.
Enquanto eu tiver força, vou continuar a trabalhar
«Para mim é mais fácil porque já levo muitos anos disto e tenho os meus clientes certos, mas começar do zero não é pera doce» relata, enquanto houver trabalho e eu tiver força, vou continuar a trabalhar»
Mas já ninguém se interessa muito pelo artesanato e isto vai acaba-do.» reconhece.
Em relação à forma de confecionar as peças, senhor Marques diz que não tem segredos, tem «gosto». Na sua perspetiva, qualquer um que tenha jeito, paciência e vocação, consegue fazer aquilo que ele faz.
Passo a passo, Joaquim foi construindo aquele que, há vários anos, é o seu negócio, o seu rendimento, mas também aquilo que lhe dá prazer à vida. E é com orgulho que refere isso mesmo: «poucos se podem gabar de fazer com amor aquilo que muitos fazem apenas por dinheiro» E enquanto as mãos lhe permitirem vai mantendo bem acesa a chama da tradição.
Município de Vila Verde, 15.11.2019