Apresentação do livro de André Soares revela textos inéditos sobre as extraordinárias obras concebidas por este mestre da arte
Atualizado em 19/11/2016Na apresentação do livro “Estudos sobre André Soares, o rococó e o tardobarroco no Minho e no Norte de Portugal “, da autoria de Eduardo Pires de Oliveira, realizada no dia 18 de novembro, na Biblioteca Prof. Machado Vilela de Vila Verde, foram revelados textos inéditos sobre a obra de André Soares, que durante muitos anos o seu trabalho foi ignorado, e em grande parte atribuído ao arquitecto Carlos Amarante.
A apresentação do livro esteve a cargo do Prof. Henrique Matos, onde referiu André Soares, como um mestre da arte que só viria a ser conhecido publicamente com a vinda para Portugal do historiador estado-unidense Robert Chester Smith que o considerou um dos expoentes do Rococó na Europa.
André Soares foi um vulto criador que teve uma obra multifacetada e relativamente extensa. As obras do rocóco do Norte de Portugal têm muita grande qualidade. E a esse estilo devemos acrescentar outro que foi coevo e que André Soares também praticou com superior mestria, o tardobarroco. As extraordinárias obras concebidas por André Soares podem ser uma fonte muito importante para as populações de Braga e do Minho se sentirem orgulhosas de terem nascido ou vivido numa cidade e região onde nasceu e viveu tão extraordinário vulto da arte portuguesa e europeia.
Para além do apresentador do livro, Prof. Henrique Matos, a sessão da apresentação contou, ainda, com a presença da Vereadora da Educação, cultura e Ação Social, Dr.ª Júlia Fernandes, do autor Professor Eduardo Pires de Oliveira, e de vários convidados que fizeram questão de conhecer a obra do mestre de arte André Soares.
Considerações do Autor Eduardo Pires de Oliveira sobre o livro “Estudos sobre André Soares, o rococó e o tardobarroco no Minho e no Norte de Portugal “:
“André Soares (1720-1769) é o vulto que nos une aqui hoje. André Soares é a personalidade que nos deverá unir sempre. A sua arte é excepcional. Quem a vê não mais a esquece. Obras como a capela dos Monges, a fachada da igreja dos Congregados, a fachada do palácio do Raio, o conjunto de talha da igreja de Tibães ou o retábulo de Nª Sª do Rosário, na igreja do convento de S. Domingos, em Viana do Castelo, entrariam, perfeitamente, no rol das obras-primas do tardobarroco e do rococó europeu se o Mestre estivesse devidamente divulgado na Europa, Estados Unidos da América, Brasil ou Japão. Mas não está! Diz-se que Borromini, o extraordinário arquitecto italiano, o “concorrente” de Bernini, foi o arquitecto europeu que concebeu as cornijas mais pronunciadas e complexas; mas o que é que se pode dizer da cornija que está na esquina nascente do convento dos Congregados com os seus 25 planos? Sim, 25 planos! Não conheço nenhuma obra de Borromini assim tão assumida!
Tenho mostrado trabalhos de André Soares a especialistas de Portugal, Europa, Brasil; a arquitectos, historiadores de arte, alunos e amantes de arte ou “simples” curiosos. E recebo sempre a mesma resposta: uma profunda emoção, um infindo espanto! Paulo Varela Gomes, recentemente falecido, o mais conceituado historiador de arte português da sua geração, a anterior à minha, não foi capaz de articular nenhuma palavra após ver algumas destas obras. E o mesmo direi de Benedito Lima Toledo, arquitecto e catedrático de História de Arquitectura na Universidade de S. Paulo: durante os 3 dias que andei a mostrar-lhe Braga, ele quase não falava; perguntei à Susana, a esposa, se ele estava bem e ela respondeu-me: o Eduardo não deveria ter começado a mostrar Braga pela obra de André Soares, o Benedito ficou demasiado emocionado! Quando, por fim, consegui arrancar-lhe algumas palavras, ele disse-me: Eduardo, conheço razoavelmente bem a Europa, mas nunca, nunca vi nada como isto!
Mas André Soares não se reduz a Braga, ele também existe um pouco por todo o Norte de Portugal, por terras do Cávado, do Ave e do Lima, por Vila Verde, Amares, Esposende, Viana do Castelo, Ponte de Lima, Arcos de Valdevez, Guimarães, Penafiel, Vila Real e Lamego, e isto para não se falar de muitos outros locais onde se veem obras de outros artistas que foram influenciados pela arte do Mestre, no Minho, na Galiza ou em Minas Gerais. Ou seja, André Soares é, sem dúvida, mais do que qualquer outro, o grande arquitecto do Norte de Portugal.
Ou seja, se devidamente tratado, André Soares poderá ser uma extraordinária fonte de coesão dos povos do Minho, de estímulo ao seu amor-próprio, ao orgulho de ser natural da mais bela região de Portugal, onde ele nasceu, viveu e morreu. E onde eu também nasci, o que digo com imenso orgulho.
Mas André Soares pode ser também outra coisa igualmente muito importante: um extraordinário motor de desenvolvimento da economia do Norte de Portugal, do seu turismo. E sê-lo-á se os diversos organismos públicos – Turismo do Norte de Portugal, Câmaras Municipais, Comunidades Intermunicipais, entre outras – e os organismos privados – Associações Comerciais, hotelaria, guias turísticos, etc. – quiserem e souberem dar as mãos e trabalhar em conjunto. É que o turismo que André Soares possibilita não é o turismo sazonal, de Santo António, S. João, S. Pedro, Semana Santa, etc. Esses são programas importantes mas de apenas alguns, poucos dias, como também o são os meses de Verão. O turismo que pode ser alicerçado em André Soares é o de todo o ano. É um turismo permite dar um certo alento aos difíceis meses de Inverno. Essa poderá ser a nova realidade do nosso turismo. Assim queiram, repito, os organismos públicos e privados dar as mãos e trabalhá-lo em conjunto.
E urge fazer esse trabalho. Urge porque se está a perder tempo, urge porque é necessário revitalizar a nossa economia e urge porque daqui a menos de 3 anos teremos que começar a comemorar os 250 anos da sua morte e daqui a 4 anos os 300 anos do seu nascimento. Essa é uma das razões porque quis publicar este livro. Essa a razão porque também quis publicar o livro “André Soares em Vila Verde”: proporcionar material para que se possa começar a pensar devidamente nessas comemorações. Da mesma forma como no futebol, poderei dizer: a bola está do vosso lado, levam-na também à Europa, sabendo nós, porém, que não nos poderemos apenas restringir ao nosso velho continente, que a arte, as obras de André Soares têm qualidade para ser potenciadas em todo o mundo.
Daqui a cerca de seis meses encontrar-nos-emos novamente na apresentação do vol. 2 dos “Estudos sobre André Soares e o rococó e o tardobarroco do Minho e Norte de Portugal”. É que André Soares tem uma arte e uma personalidade tão rica que se impõe um novo volume para o poder dar a conhecer com a devida e necessária extensão.
Eduardo Pires de Oliveira”